Chance de corte da Selic em março caiu, mas segue válida
O comunicado do Copom deixa alguma pista sobre o futuro da política monetária?
O comunicado do Copom, divulgado após a reunião de quarta-feira, em que foi decidida a manutenção da taxa básica em 7,25%, diminuiu a probabilidade de um corte da Selic na reunião de março, mas não eliminou essa chance. Para o diretor de estratégia econômica para América Latina do Barclays, Marcelo Salomon, o Banco Central sinalizou que está, sim, atento à inflação mais alta que se vê no curto prazo, mas isso não altera a preocupação com a fraca recuperação da atividade. Por isso, a hipótese de uma redução dos juros em março em 0,5 ponto percentual segue no cenário traçado pelo economista. A seguir, os principais trechos da entrevista:
Valor: O comunicado do Copom deixa alguma pista sobre o futuro da política monetária?
Marcelo Salomon: Nós tivemos uma leitura relativamente neutra. Ele traz na primeira parte uma sinalização de que há um aumento da inflação de curto prazo e que existe uma preocupação do Banco Central com isso. Mas a gente vê que tem outro grupo que ainda acha que a atividade está muito fraca e que o mundo ainda é um lugar perigoso. Você coloca as duas frases no texto e mantém o balanço de riscos favorável à manutenção dos juros por um tempo prolongado. Isso significa que uma força está cancelando a outra. O grande ponto de interrogação é por que eliminar o termo "não linear" de trajetória de inflação. Então, a leitura que tivemos é que, no relatório de inflação, o BC previa uma inflação de 5,7% no último trimestre de 2012, manutenção desse nível no primeiro trimestre de 2013 e queda a partir do segundo trimestre. Quando ele fala que não é linear a convergência, pode estar dizendo que, na próxima comunicação formal, que vai ser em março, que você vai estar vendo o pico da inflação. E, a partir daí, haverá uma convergência linear da inflação em direção à meta. Essa é uma interpretação de duas ou três linhas que ele publicou ontem. A gente precisa olhar a ata com atenção. Ver se o BC tem uma preocupação maior em relação a qual dos dois campos - atividade ou inflação - ele tem mais preocupação.
Valor: Vocês estão prevendo um corte de juros a partir de março. O comunicado veio um pouco mais "hawkish" (a favor de aperto monetário) do que vocês esperavam?
Salomon: Vamos colocar de uma forma diferente: eu continuo achando que a maior probabilidade é de um corte de juros. Mas, agora, está mais balanceado o quadro. A probabilidade diminui de o BC cortar, mas ela ainda é preponderante no nosso cenário. Mas isso não é "hawkish". A tonalidade é diferente. Continua sendo um Banco Central que está focado em atividade. É um BC que está à vontade porque a inflação está convergindo para o centro da meta. É um Banco Central com as mesmas preocupações que já foram reveladas em relação à atividade.
Valor: A ata pode ser reveladora também em relação a outras questões, como a fiscal ou a preocupação com a crise de energia elétrica?
Salomon: Acho que não haverá menção explícita sobre probabilidade de corte do (superávit) primário no ano que vem, porque o BC já falou que assume o que a Fazenda está fazendo. E a Fazenda está dizendo que vai cumprir a meta. É exógeno aos parâmetros dele. Será importante entender um pouco mais da desaceleração que ele está vendo. É interessante esperar essa leitura, pois vimos dados de produção industrial e de vendas no varejo mais fracos, e depois um dado de PIB mensal mais forte do que imaginávamos. Tem número para todo o gosto. A gente já sabe que a atividade está reacelerando em uma velocidade fraca. A preocupação maior é do lado da formação bruta de capital fixo. Vai ser bom entender um pouco mais do que eles vão querer fazer.
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