Poupança lidera preferência na classe C

Tradicional modalidade de investimento é a escolhida por 51% dos brasileiros e 34% das brasileiras, diz pesquisa.

Não é de hoje que a poupança figura entre os investimentos com menor rendimento, abaixo de 1%. Apesar disso, a tradicional caderneta continua sendo a preferida dos investidores, inclusive daqueles com menor renda. Segundo pesquisa da consultoria Quórum Brasil feita com pessoas da classe C com renda familiar entre R$ 1.500 e R$ 2 mil, 51% dos homens e 34% das mulheres têm entre suas aplicações a poupança. Poucos investem em ações, boa parte, por não achar que o mercado acionário é adequado ao padrão de renda.

 

"O primeiro fator que explica o investimento em poupança é comportamental. Os pais, os avós, muitas gerações já aplicavam na caderneta", diz o diretor da Quórum Brasil, Cláudio Silveira. O aumento da renda e a abertura da primeira conta bancária por milhares de brasileiros também explica a preferência. "Há uma alta penetração desse investimento no Brasil porque é um produto muito vendido pelos bancos. Com qualquer R$ 1 você investe", diz o consultor Mauro Calil. Segundo o Banco Central, 54% dos poupadores têm até R$ 100 na caderneta.

A pesquisa também mostra que boa parte da classe C ainda não investe. Para especialistas, o fácil acesso ao crédito nos últimos anos ainda compromete boa parte da renda. "Daqui um ano e meio, quando as parcelas das dívidas acabarem, a capacidade de poupança irá aumentar", afirma Silveira, ao dizer que acredita que outro investimentos, como as ações, passarão a ser mais procuradas.

Bolsa

Somente para 3% dos homens ouvidos na pesquisa, a aplicação em ações é adequada ao nível de renda. Entre as mulheres, o investimento nem é mencionado. "Isso demonstra um pouco de medo e falta de conhecimento", diz o diretor comercial da corretora SLW, Robson Queiroz. "Há tempos a Bolsa deixou de ser um ‘clube do Bolinha’ de grandes investidores", completa.

Apesar da baixa renda da classe C, especialistas acreditam que hoje o mercado é bem acessível a este público. "Com R$ 1 mil já é possível começara a aplicar", diz o diretor de canais eletrônicos da TOV, André Jorge. A casa, que quer ser "as Casas Bahia das corretoras", hoje tem 20% da base de clientes na classe C.

Com um valor um pouco acima desse o estudante Leandro Martiniano, de 24 anos, que se considera pertencente à classe C, montou sua carteira há dois anos. "Li livros e participei de simuladores por um ano e meio, período em que juntei R$ 2 mil para começar a carteira", lembra. O aprendizado hoje continua, nas palestras virtuais de sua corretora, a XP Investimentos. Em geral, especialistas sugerem que 10% da renda seja investida. "Não é tão fácil como se diz ter a disciplina de colocar um dinheiro todo mês na Bolsa, mas pretendo usar o dinheiro do 13º para aplicar mais."

Corretoras acreditam que o interesse da baixa renda por ações vem crescendo, em parte pelas campanhas que a BM&FBovespa realiza para popularizar a Bolsa. "Desde 2002, a Bolsa tem programas de educação financeira. A ideia é desmistificar que a Bolsa é cassino ou que é preciso ter muito capital para investir", diz o professor de Educação Financeira da BM&FBovespa, José Alberto Netto.

Entre palestras, cursos e visitar, a Bolsa já atendeu 1,6 milhão de pessoas. "Mesmo que a pessoa não tenha renda hoje, ela já pode ir aprendendo como funciona nos simuladores, para no futuro investir."

Para quem não quer investir sozinho, há ainda uma segunda opção de ingressas no mercado acionário, por meio de clubes de investimento, grupos de investidores que aplicam na bolsa em conjunto.  A quantia para aplicar depende do valor da cota do clube. "Neste caso, tem a vantagem de a pessoa com pouco conhecimento aprender mais, com outros investidores e com a própria corretora os auxiliando", diz Queiroz.

Tesouro Direto

O Tesouro Direto também tenta por meio de campanha popularizar o investimento. Atualmente, há pouco mais de 193 mil investidores cadastrados no site que negocia títulos públicos para pessoas físicas. "Hoje, com R$ 100 é possível aplicar", diz o gerente de relações institucionais do Tesouro, André Proite.

"É uma aplicação que atende muito bem à classe C." Isso porque os fundos de renda fixa e DI oferecidos à baixa renda geralmente possuem alta taxa de administração. "Publicamos um ranking das taxas cobradas no Tesouro Direto. Há corretoras que nem cobram nada", explica. Segundo o último boletim, 23,7% das vendas foram de até R$ 1 mil.

 

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