Qual o valor da gestão de risco corporativo?

De acordo com especialista, as empresas precisam desenvolver mecanismos mais sofisticados para apuração de custo-benefício

A noção de risco sempre acompanhou a humanidade na tentativa de antever incertezas, medir implicações e agir sobre efeitos para tranquilizar os detentores de bens. Nas empresas, o risco e sua gestão sempre andaram junto ao retorno e tratamento do risco sempre se baseou em fatores mais associados à dinâmica do ambiente de negócios. Por isso, as preocupações sobre gestão de risco nas empresas se apresentaram em ondas: atendimento regulatório setorial e de SOx, modelos de governança de riscos e transparência, gestão integrada corporativa. A cada período, uma nova onda de transformação tirava o sono dos líderes das organizações.

Embora haja sobreposições destas ondas e as empresas se encontrem em estágios distintos de evolução, é possível antever uma próxima demanda, sobretudo para empresas líderes: Como mensurar o valor efetivo da gestão de risco corporativo? Como saber até que ponto investir em melhorias e obter ganhos não-marginais de valor?

A resposta a este enigma ainda está longe de ser conhecida, mas há razões para crer que seja uma longa jornada com investimentos e esforços intensos:

  • Mais de 90% das empresas têm o próprio Diretor Financeiro (CFO) ou um Diretor de Risco (Chief Risk Officer) à frente da gestão de risco;
  • Investimentos nessa área são bem vistos por executivos, acionistas e analistas, pois aumentam a credibilidade e o valor da organização; além da conformidade regulatória, as empresas entendem que a função tem impacto relevante na rentabilidade e, logo, trazem vantagem competitiva;
  • A maior parte dos pesquisados diz não ter alcançado o modelo ideal – quase 80% devem otimizar a visão integrada de risco em suas organizações, sobretudo após a crise financeira global;
  • Mais de 90% das empresas empregam mecanismos de avaliação de retorno ajustados ao risco, tais como CAPM ou RAPM, visando desvendar oportunidades escondidas no cenário de incertezas e ampliar as recompensas obtidas em seus negócios.

A experiência mostra, ainda, que modelos avançados capturam maiores benefícios, tais como:

  • Melhor capacidade de alocar capital para perdas previstas;
  • Definição eficiente de valores de seguro;
  • Maior eficiência no planejamento estratégico com projeção do fluxo de caixa;
  • Maior controle de efeitos da volatilidade no fluxo e na exposição de caixa à moeda local;
  • Maior controle da exposição às instituições financeiras e monitoramento da exposição comercial.

Mas para saber até onde investir é preciso ter mecanismos sofisticados de ponderação de custo-benefício. É preciso responder, por exemplo, até que ponto ter um middle-office que estabeleça limites corporativos para concessão de crédito de forma independente da área comercial é uma medida que traz benefícios maiores que o investimento. Ou, ainda, se programas de aculturamento em risco e treinamento estatística o mapeamento de eventos de risco são investimentos justificáveis para o retorno esperado.

Embora este tipo de modelo avançado não seja ainda nem a realidade, nem a necessidade da maior parte das organizações, não é difícil imaginar que as empresas líderes em breve perderão o sono tentando vislumbrar um modelo capaz de mensurar benefícios e dimensionar coerentemente os esforços necessários para gerar valor em gestão de risco.

*Marcio Giachetta Paulilo é gerente sênior da Accenture do Brasil, com especialização em Risk Management. É Mestre em Administração e Engenheiro Mecatrônico.

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